quarta-feira, fevereiro 24, 2010

O MUTISMO SELETIVO

O mutismo seletivo. É claramente diferente das dificuldades de aprendizagem. Ele está classificado dentro dos transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância ou na adolescência.. O mutismo seletivo é de natureza emocional e consiste em uma recusa insuperável de falar com pessoas estranhas em situações sociais específicas, como no ambiente escolar, mas não em casa. A criança com este transtorno não costuma apresentar dificuldades de compreensão nem de expressão verbal. A comunicação pode realizar-se por gestos, por negação ou por afirmação, ou com o emprego de monossílabos ou de frases curtas. Podem, no entanto, surgir algumas dificuldades na linguagem expressiva e na articulação da linguagem.
Em outra obra, refletimos sobre este transtorno em relação ao autismo (apud. Garcia, 1992c, p. 125-126; 1999b, c, d). Identificado por Kussmaul em 1877, o nome foi dado por Tramer em 1934. Foram descritos vários sub-tipos. Igualmente, parece que existe certa associação deste problema em relação a dinâmicas familiares discutíveis com excessivo uso do abuso físico e sexual, embora essa questão seja problemática pelas implicações que pos¬sa ter ao atribuir a culpa aos pais, e naturalmente isto não é abordado no DSM-IV. Sugerem-se também fatores de aprendizagem social pela proporção de meninas que o apresentam.
Podem-se associar outros transtornos de linguagem, como o transtorno fonológico, transtorno da linguagem expressiva, transtorno misto da linguagem receptivo-expressiva ou ainda transtornos orgânicos da articulação. Em uma terminologia clássica, costuma se falar das disglosias para se referir às dificuldades de articulação por efeito de alguma má-formação ou defeito no aparelho fonador, tais como lábio leporino ou palato ogival. Em troca, costuma-se empregar a terminologia disartrias quando é de natureza neuromotora, como no caso da paralisia cerebral infantil (PCI). Do mesmo modo, podem-se associar grande timidez, isolamento social e retraimento, rejeição escolar, compulsões, personalidade instável ou condutas de oposição no lar. Alguns destes traços tornam necessário um diagnóstico diferencial com outros.Como o autismo.
O mutismo seletivo inicia-se antes dos cinco anos, ou ao entrar na escola, e dura um tempo mais ou menos longo, podendo chegar a anos. Quando perdura, pode alterar a atividade social e escolar, dando lugar ao fracasso escolar e podendo tornar a criança o bode expiatório para os colegas.
Parecem ser fatores de pré-disposição a superproteção materna, a presença transtornos de linguagem ou de retardo mental, além de situações de imigração, de hospitalização ou de traumas nos três primeiros anos de vida.
O transtorno é raro, parece se dar em menos de l % da população infantil lições clínicas ou escolares. Para o DSM-IV, ocorre mais em meninos que em meninas; em troca, alguns estudos dizem o contrário (Garcia,1999a, b, c, d).
É preciso efetuar o diagnóstico diferencial do retardo mental grave ou profundo, dos transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo; e do transtorno da linguagem expressiva. Nesses casos, pode-se dar "ausência" de fala, mas o que seria em "todas as situações", e não como no mutismo seletivo, que seria nas situações "fora de casa" ou na presença de estranhos.
Os critérios conforme o DSM-IV-TR são cinco: a) Incapacidade persistente para falar em situações sociais específicas (nas quais existe a expectativa para, por exemplo, na escola), apesar de falar em outras situações, b) A perturbação interfere na realização educacional ou ocupacional ou na comunicação social. c) mínima de l mês (não limitada ao primeiro mês de escola), d) A idade para falar não se deve a um desconhecimento ou desconforto com o idioma exigido pela situação social, e) A situação não é mais bem explicada por um transtorno da comunicação (por exemplo, tartamudez), nem ocorre exclusivamente durante o curso de um transtorno global do desenvolvimento, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico.
O tratamento mais adequado é o condutual no ambiente natural (Echeburúa Espinet, 1990; Santacreu e Froján, 1993).

GARCÍA SÁNCHES , JESUS – NICACIO. Dificuldade de Aprendizagem e Intervenção Pscopedagógica (p.46-47)

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